Nesse capítulo vou contar “causos”da estrada.
Hoje foi um daqueles dias em que tudo dá certo e no final da errado, mas depois inexplicavelmente dá certo, como aquela frase: “Deus escreve certo por linhas tortas”.
Eu tinha um roteiro, ia pelo norte da Ilha de São Francisco do Sul e pretendia contornar toda a ilha para chegar em Barra Velha, tomei um café da manhã lá com o mano Júlio. A viagem era bem curta, mas eu queria passar um tempo na estrada. Cheguei no norte da ilha a uma hora da tarde, mas a balsa para fazer a travessia só abriria às quatro horas. Por isso, tive que mudar o roteiro, pois quem está viajando tem que estar preparado para imprevistos, mudou o roteiro, era uma viagem, virou outra viagem. Essa viagem não tem roteiro definido e, às vezes, chego em algum lugar sem ter onde passar a noite.
Voltei por dentro de Barra Velha, por uma estradinha cheia de lombadas, a moto é alta então não preciso me preocupar com lombadas, mas e o bagageiro atrás? aí que a gente vê o certo pelas linhas tortas. No caminho, o bagageiro soltou e saiu arrastando pelo chão. Por sorte, dentro do bagageiro tinha uma mochila com apenas algumas roupas. Meu notebook não estava na mochila, porque eu tinha despachado pelos Correios uma hora antes de pegar a estrada, porque já tinha terminado os atendimentos aos meus clientes, tinha terminado relacionamento com todos os clientes, tinha um útlimo cliente que cortei o relacionamento por achar que estava sendo explorado, quando você está viajando a última coisa que você quer é ser explorado. Se você está na sua casa de boa, tomando sorvete, vendo Netflix, você consegue dedicar um tempo para atender, mas quando está viajando não quer stress, o cara pagou uma diária e ficou quinze dias no meu pé. Ofereci o pacote semanal para ele, que recusou falando que ia sair caro para ele, mas da outra forma sairia caro para mim. Então despachei o notebook pelos correios, pela primeira vez em um mês e meio estava sem o notebook no bagageiro, o errado que virou o certo.
Parei a moto para arrumar o bagageiro e troquei algumas ideias com um senhor que estava parado por ali. Ele disse que não precisaria aparafusar o bagageiro, poderia simplesmente encaixar. Então, eu encaixei e assegurei o bagageiro com uma aranha ou rede.
Segui a viagem até a casa do Guto, indicação do Mabel, onde combinei de passar a noite. Por causa da mudança no roteiro, cheguei antes do horário combinado. Ele não estava em casa, mas a esposa me avisou que ele estava na praia dando aulas de surfe. Ela disse que eu teria que ficar em outro lugar e isso me deixou incomodado. Na praia, conversei com ele e pedi uma prancha emprestada para surfar. Ele disse que não tinha o costume de emprestar pranchas, porque tinha uma filosofia de não deixar alunos sozinhos, porque o mar é perigoso, mas falei o mar está vazio, não vou atrapalhar ninguém. A minha filosofia de vida diferia da filosofia dele, pensei vamos lá para biblioteca, pegar papel e caneta e ler uns livros estudar filosofia, vim pra surfar! Se eu quiser enfiar uma prancha no mar eu enfio, se o carra gostou ou não gostou problema dele e por isso eu resolvi ir embora.
Resolvi ir a Itajaí, onde encontrei outro professor de surf e combinei com ele para fazer algumas aulas. Pedi uma indicação de pousada e ele me passou o número de um restaurante que tinha um quarto para alugar na beira da praia. Por telefone, um rapaz concordou em alugar o quarto, falando que ficava na beira da praia e que o preço era bom.
Quando escureceu, notei que o farol de milha da moto tinha parado de funcionar e que o óleo precisava ser trocado, bagageiro quebrado, farol quebrado. Fiz a travessia na balsa com a moto e fui até a beira da praia. Chegando no restaurante, o proprietário me falou que não queria alugar o quarto, porque estava sujo, argumentei que vim de longe que tinha já combinado. Perguntei sobre o rapaz, o Matheus, com quem tinha combinado, mas o senhor não concordou em alugar o quarto, fechou a porta e virou as costas. Ele me indicou uma pousada, mas decidi não alugar o quarto, porque minha oferta pela diária não foi aceita, ela ofereceu por setenta reais um quarto com três cama, que era acomodação para uma família, aí então quando eu casar e tiver filho aí me hóspedo com você.
Reservei um quarto em outra pousada, mas não conhecia o lugar. Chegando lá, notei que tinha uma oficina do lado onde poderia consertar a moto, troca óleo, pode ver o bagageiro, conserta a led do milha. Na hospedagem tinha um carioca que falou que viajou o mundo, indicou um lanche. Conversei com o professor de surfe, o Nei, dizendo que estava em outra pousada e enviei a localização. Ele me disse que estava perto da casa dele e que poderia fazer as aulas de surfe sem problemas.
No fim das contas, algumas coisas deram errado, depois deram certo, depois deram errado mas depois tudo se acertou.